DR. MARCELO TONIETTE

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MÍDIA

   

TE PERDÔO POR TE TRAIR

A tendência entre casais é superar a infidelidade com diálogo e reflexão. Hoje, poucos se separam por causa das escapadela


Por Camilo Vannuchi, Chico Silva e Eliane Lobato Colaboraram: Neila Fontenele e Greice Rodrigues

 

 

 

Trair, chifrar, pular a cerca, manter um relacionamento extraconjugal, ser infiel. Expressões como estas fazem tremer as pernas de qualquer um. Poucas coisas são tão desagradáveis quanto descobrir que existe outro dividindo a cama (e os sentimentos) da pessoa amada. Mas, ao que parece, por solidariedade ou puro sadismo, muita gente gosta de acompanhar as peripécias sexuais dos outros, principalmente quando o caso é público e rico em detalhes. Se não gosta, vai ter de se acostumar. A traição está na boca do povo, nas manchetes dos jornais e no auge do horário nobre. Apenas no mês de fevereiro, o brasileiro visitou a intimidade do prefeito de Ipatinga (MG), Chico Ferramenta, se decepcionou (mais uma vez!) com Antônio Carlos Magalhães, exerceu a arte do voyeurismo diante dos malhos de Sabrina e Dhomini (Big Brother Brasil) e, finalmente, assistiu à impagável sobreposição de casais na nova trama de Manoel Carlos, Mulheres apaixonadas.


Em todos esses casos, chama a atenção a popularidade do perdão. Chico Ferramenta voltou para os braços da mulher – a deputada estadual Cecília Ferramenta – depois de ficar desaparecido por dois dias e se hospedar em um hotel com duas garotas de programa. ACM continua casado com Arlette Maron de Magalhães, sua esposa há mais de 50 anos, apesar das denúncias de que ele teria grampeado o telefone de uma antiga amante. A namorada oficial de Dhomini, Manuella Zamith, ainda torce por ele. Na terça-feira 25, ela compareceu pela terceira vez aos estúdios da Rede Globo e acompanhou mais um paredão do Big Brother. Enquanto Dhomini escapava novamente da eliminação, a consultora comercial de 26 anos, namorada dele há três, acenava confiante da torcida. Desconfortável com a situação, ela admite que está triste, mas não pensa em romper o namoro. “Quando ele sair, vamos conversar. Estou preparada tanto para continuar com ele quanto para terminar. Todos merecem perdão”, diz ela. Sua teoria é a de que os beijos e abraços entre Dhomini e Sabrina não passam de estratégia para cativar o público e conquistar o prêmio de R$ 500 mil. Mesmo assim, Manuella deve abrir os olhos. Há um ano, a roqueira Syang participou de outro reality show, o Casa dos artistas 2, e trocou de parceiro. “Namoro a distância é muito difícil. Quando me envolvi com o Gustavo, meu ex-namorado soube na hora. Traição é enganar, esconder e deixar que ele seja o último a saber”, diz. Syang e Gustavo continuam juntos.


Ainda que não seja uma atitude frequente na maioria dos relacionamentos, superar as escapadelas parece ser uma tendência entre os casais. Não por submissão como acontecia antigamente, mas porque, cada vez mais, os casais descobrem que um flerte ocasional não significa falta de amor ou falência do casamento. “Exclusividade sexual é ficção. Até acredito que alguns casais não traiam, mas são exceções”, afirma a terapeuta sexual carioca Regina Navarro Lins. Autora do best-seller Cama na varanda (Editora Rocco), Regina é conhecida por divulgar idéias nada conservadoras no que se refere a relacionamentos. Uma delas é a de que a fidelidade não tem nada a ver com sexualidade. “Uma mulher casada que já não sente tesão pelo marido e até nutre algum rancor por ele é considerada fiel se nunca transou fora do casamento. Outra, que ama e tem tesão pelo marido, mas teve relações extraconjugais, é chamada de infiel. Isso é patético”, defende a terapeuta. Regina considera a palavra traição inadequada. “Ela vem carregada de juízo de valor e pressupõe que a exclusividade é premissa para todas as relações. Isso não é verdade. As pessoas estão descobrindo novos modelos de parceria. Não se trata de substituir uma moral por outra, mas de se buscar a felicidade, sem pactos como o da fidelidade, que é falido”, explica.


Felicidade – Aos 46 anos, a atriz Christiane Torloni admite que sempre batalhou pela felicidade. Casada há oito anos com o diretor Ignacio Coqueiro – e morando em casas separadas – a atriz principal de Mulheres apaixonadas só fala sobre traição do ponto de vista da personagem. “Helena trai, mas não é uma mulher leviana. O casamento dela nasceu de uma traição. Ela namorava o César e o traiu com o Téo, com quem se casou. Agora, vai trair o Téo com o César, seu verdadeiro amor. O público vai perceber que o objetivo da personagem é simplesmente ser feliz”, explica. “Toda mulher tem esse aspecto ‘helênico’ de lutar pela felicidade. Hoje a sociedade está menos hipócrita e entende isso”, diz. Ao ser perguntada se já traiu na vida real, Christiane desconversa: “Jamais responderei a isso. Até porque não estaria falando apenas sobre mim. Isso envolve outras pessoas, vivas e mortas.”


O eixo da trama de Manoel Carlos é um triângulo amoroso. A monotonia de um casamento de 15 anos leva a protagonista Helena (Christiane Torloni) a trair o marido, Téo (Tony Ramos), com César (José Mayer). “O tema central da novela é a busca da felicidade no amor, ainda que para isso seja necessário trair, ser infiel, abrir mão de um casamento aparentemente confortável”, explica o autor do folhetim. Assim como Manoel Carlos, muita gente rediscute o conceito de traição. Para a socióloga e psicóloga Maria Helena Matarazzo, a pulada de cerca ocasional não significa falta de amor. “A busca compulsiva por outros parceiros ou o triângulo amoroso podem significar que algo vai mal no relacionamento”, diz. Prestes a relançar, dez anos depois, o sucesso Amar é preciso (Editora Record), Maria Helena acredita que a boa relação deve ter como fundamento uma profunda amizade. “Neste caso, a escapada contece em uma viagem de trabalho, quando você está sozinho. Surge sempre de uma carência, que pode ser de sexo, mais comum para os homens, ou de carinho, frequente nas mulheres”, diz.


Para tentar explicar o que move homens e mulheres a transpor a cerca, a editora Matrix acaba de lançar O livro da traição masculina e O livro da traição feminina. Lilian Víveros, responsável pela versão para moças, garante que elas são levadas a trair quando se sentem insatisfeitas. “O homem, ao meu ver, muitas vezes está feliz em seu casamento, mas quer viver uma aventura. A maioria das mulheres é movida por uma paixão, por um desejo de viver um grande amor”, diz. O jornalista Drago, autor da versão para rapazes, defende os homens ao mostrar que a natureza humana não é a monogamia. “Por que eles traem as mulheres que amam? Porque amam as mulheres”, provoca. Casado há 17 anos, ele acha que a fidelidade foi feita para ser quebrada e sugere a revogação de todo tipo de contrato. “Os namorados continuam juntos porque se gostam, não por causa de um pacto. Tento agir com coerência. Não fico atrás de outras mulheres. Se tivesse vontade de fazê-lo, me separava. Mas já tive relacionamentos extraconjugais que não me impediram de continuar amando minha mulher”, diz. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana, a psicóloga Veronica Gusmão concorda com ele. “Nascemos para nos perpetuar. A mulher tem mais dificuldade para buscar novos parceiros porque precisa que o macho seja protetor, pai de sua cria. Mas a traição é algo culturalmente construído. Está na premissa da posse do outro”, explica.


O livro de Lilian Víveros traz os resultados de algumas pesquisas recentes realizadas no Brasil e nos Estados Unidos. “Lá, 70% dos casais vivenciam ao menos um caso extraconjugal e 90% deles não se separam. Aqui, 35% dos traídos terminam a relação. Isso significa que mais da metade das pessoas procura manter o casamento”, enumera a autora. A tendência pode ser notada até na atividade dos detetives particulares. “Há cinco anos, 80% dos clientes queriam confirmar suspeita de adultério. Hoje, a investigação conjugal responde por apenas um terço do trabalho. O resto é para investigar suspeitas de falcatruas na empresa, entre sócios, ou para verificar se os filhos estão usando drogas”, conta Elias Almeida, da Cia. Almeida de Investigações. “De cada dez clientes que comprovam, apenas um usa na Justiça. A maioria perdoa. Investiga apenas para puxar a orelha do outro e lavar a roupa suja em casa”, diz. O advogado Aloysio Catani, especializado em vara de família, confirma que o adultério é evitado como motivo para divórcio litigioso. “Para a mulher, o ex-marido adúltero é, acima de tudo, pai dos filhos dela. É provável que ela queira zelar pela integridade da família. Para os homens, levar a traição para o tribunal significa divulgar sua imagem de corno”, explica. Vale lembrar que, de acordo com o novo Código Civil, ser vítima de adultério não garante a guarda dos filhos nem livra do pagamento de pensão.


O descompasso entre os impulsos que levam homens e mulheres a trair se repete na hora do perdão. Sexo e envolvimento têm pesos diferentes. “Para a mulher, a traição significa envolvimento emocional. Ela acha que o homem se envolveu com outra mulher e pode trocá-la. Para ela, o fantasma é imaginar seu namorado ou marido fazendo carinho, cuidando de outra mulher”, diz a psicóloga Maria Virgínia Grassi, da Universidade Federal do Paraná. “Para o homem, o que mais pega é ela ter transado. Se a mulher diz que está gostando de um colega de trabalho, ele fica com ciúme. Mas, se houver sexo, aí é grave. A primeira reação é saber se ela gozou. Seu fantasma é a comparação”, afirma. Assim, a mulher pode fazer um escândalo se souber que o marido está trocando e-mails com uma amiga, dividindo segredos com outra, mesmo que não haja encontro físico. Da mesma forma, é mais difícil perdoar um namorado que tenha uma amante. Stella Florence, 35 anos, autora do livro Hoje acordei gorda (Editora Rocco), já passou pela experiência. “Aluguei um apartamento no Rio de Janeiro para passar uns dias. Lá, encontramos uma amiga dele, também de São Paulo, e ele disse que ela estava sem lugar para ficar e perguntou se poderia passar uma noite no nosso apartamento. Eu acordei de madrugada e flagrei os dois transando na área de serviço. A moça era caso dele desde São Paulo. Fiquei tão chocada que engordei 30 quilos em três meses.”


Recuperada do trauma, Stella está casada há dois anos com Eduardo Haak, 31, seu parceiro no site Crônicas de um casamento, no qual publicam textos sobre temas comuns à vida de casado – ciúme, infidelidade, banheiro compartilhado... No início, tentaram manter uma relação aberta, moderna, que admitisse eventuais namoros. Mas mudaram de idéia. “Analisamos as possibilidades e concluímos que é impossível uma traição não deixar fissuras”, explica Haak. No entanto, ambos ainda defendem que um simples caso extraconjugal não é motivo para separação. “Se acontecer, não vamos acabar. Também não vamos dar importância demais ao que tem importância de menos”, minimiza Stella.

Apesar da mudança de discurso, poucos conseguem conjugar o verbo perdoar. Para a maioria dos casais, a traição representa uma quebra no pacto de confiança mútua. Essa ruptura vem acompanhada de mágoa e ressentimento. “Não é fácil perdoar e esquecer. Se o casal não souber administrar, sempre que houver uma desconfiança a lembrança da traição virá à tona”, diz o psicoterapeuta Marcelo Toniette.

Cinco anos atrás, a estudante Ana Beatriz Schauff, 20 anos, descobriu que seu primeiro namorado tinha outra. “Não era uma amante ou um caso, era fixo, oficial, em outra cidade. Não consegui sequer conversar. Quando descobri, armei um barraco e nunca mais o vi”, conta. Com outro namorado, foi Ana Beatriz quem pulou a cerca, mas apenas quando percebeu que o namoro já havia acabado. Hoje, ela namora o estudante de direito Ricardo Duarte, 22 anos, e não abre mão da fidelidade. Até anel de compromisso eles usam. Ricardo faz coro. “Prefiro romper antes de trair. Não sou fiel por causa de um contrato, mas por vontade”, diz. Pelo menos no discurso, eles parecem comprovar a tese do terapeuta Sérgio Savian, autor de O amor na contramão (Editora Ágora), de que a monogamia é uma conquista, não um dogma. “O ideal é deixar a pessoa amada livre. Ela vai voltar para você porque gosta. Mesmo que pule a cerca de vez em quando. Não é à toa que existem em São Paulo mais de 200 casas de swing e as salas de bate-papo na internet sejam lotadas de homens e mulheres casadas”, lembra.


Bate-papo – Muitas vezes, o maior perigo mora mesmo na rede. A ex-contadora Isabel Tarcha descobriu na internet que seu marido a traía. Ele, craque da informática, passava a noite em frente ao computador. Ela, apenas engatinhava na arte da navegação até que o marido a ensinou a entrar em uma sala de bate-papo. “Não entendia nada de internet e achei que tudo era bate-papo. Um dia, liguei o computador e apareceu uma janela de um site de relacionamentos. Entrei e preenchi um questionário sobre meu perfil. Achei que aquilo ia me ajudar a encontrar alguém parecido comigo para conversar. Coloquei livro que tinha lido, filme que tinha visto, e logo chegou o e-mail de um tal de Remo, que tinha visto o mesmo filme e lido o mesmo livro. Ao lado, o link para uma página pessoal. Entrei e descobri que Remo era o meu marido, disposto a encontrar um novo amor”, conta. Indignada, Isabel conseguiu invadir a caixa de mensagens dele e encontrou um monte de e-mails de uma tal de Brisa. “Rodei a baiana, imprimi todos e colei na parede do escritório. Quando chegou em casa, meu marido ficou desesperado e até chorou”, lembra. Foi o suficiente para que ela resolvesse perdoar. Mas não conseguiu. Durante um ano, a vida dos dois virou um inferno. “Se eu atrasasse cinco minutos, ele achava que eu estava me vingando. Eu cheirava a roupa dele e fuçava seus bolsos toda noite. Não basta querer perdoar”, conta.





 

Este conteúdo foi publicado, originalmente, pela revista ISTO É Independente





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Consultor. In: VANNUCHI, Camilo; SILVA, Chico; & LOBATO, Eliane. Te perdôo por te trair: a tendência entre casais é superar a infidelidade com diálogo e reflexão. Hoje poucos se separam por causa das escapadelas. Isto é, São Paulo, Ed. Três, p.44-49, mar. 2003.

 

 

 

 

DR. MARCELO TONIETTE | CRP 06/49357-4

Psicólogo, Psicoterapeuta e Terapeuta Sexual

Doutor e Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo - USP

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